As Férias de Poirot, por Agatha Christie



As Férias de Poirot
Agatha Christie
Trad. Fernanda Pinto Rodrigues
216 Páginas

Uma coisa é desejar a morte de alguém e outra, muito diferente, é matá-la, com o dito e feito em efectivos da situação.
Todavia, no caso deste desejo coincidir com a circunstância, assaz misteriosa, de um estrangulamento eficaz, então quem teve a intenção mas não cometeu o acto, substitui-o pelo sentimento de culpa correspondente, e passa a acreditar cegamente na força da magia. As influências do mal, a fabulação delirante, a incerteza nos sentidos e a crise de identidade sobrevêm sorrateiramente a exigir o castigo para sua (pseudo ou imaginada) falta, favorecendo ao criminoso (real) a absolvição e fornecendo às autoridades um culpado. Se...
Isto é, se no enredo, na trama, não entrasse também a invulgar perspicácia de Hercule Poirot, esse personagem pequenino com sotaque belga e cabeça de ovo de Páscoa, de bigode caprichoso milimetricamente aparado. Porque então a tramóia vai para o brejo, afunda-se, o motivo se revela e as verdadeiras mãos de tão cruel acto se pronunciam pela experiência e engenho, de um mister adquirido, aguçado pela prática, e mostram a natureza do homem que o premeditou, repetindo-o uma terceira vez. Que é a última, pois dessa não escapa, que é de vez, dado que a mente pouco laxista de uma escritora policial, como Agatha Christie, não pode permitir-se tais veleidades, nem deixar à solta a malvadez, sem melindrar os brios, principalmente se dispõe de um recurso tão apto à investigação como o célebre detective das celulazinhas cinzentas.

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