Comédia Eufrósina
Comédia Eufrósina
Jorge Ferreira de Vasconcelos
Teatro – 160 Páginas
Há uma ideia feita – aqui desfeita –, nos bastidores da cultura – talvez inculta... –, de que a poesia é para se declamar, o teatro para representar e os romances para ler (e publicar), assaz disseminada pelas confrarias da intelectualidade conventual e pacóvia do branco é, galinha o põe! Ora, além de feita, a ideia é estupidificante. E para provar que nem só de sentimentos serôdios e retornados vive o universo literário e livresco português, veio a Colibri a terreiro e colocou em cena, nos escaparates, uma colecção de teatro, cujo número foi, nem mais, que uma adaptação de Silvina Pereira e Rosário Laureano Santos, aliás anteriormente representada pela companhia de teatro MAIZUM, ali ao Bairro Alto, no Convento dos Inglesinhos, pela recôndita Lisboa de 1995, com estreia em 27 de Março. E do posto fica que, quem viu, viu; quem não viu... pode ler!
Nesta peça, que denota inegáveis influências literárias renascentistas e medievais, a acção é tipicamente portuguesa e revela-nos aspectos da vida quotidiana e modos de pensar do século XVI, tão materialista quão beato, quer nos seus vários estratos sociais, hábitos e costumes, como nas atitudes e perfis psicológicos dos personagens; e tanto, ou de tal forma, que a própria, dita de Eufrósina, a que se interpreta alegria, nascida na antiga Coimbra, então coroa destes reinos (Portugal e Algarves), à sombra dos verdes censeirais do Mondego se entrega ao curso da vermelha lava dos desejos sem brida nem temor, numa obra com exemplar grafismo em capa mole, de fácil manuseamento, apensada dos respectivos prefácio, introdução, ficha cénica, elenco, fotos (re)tiradas às cenas, manifesto artístico do Maizum e currículos das adaptadoras. O que a complementa seriamente, embora tenhamos que reconhecer, quanto ainda carece igualmente de um glossário onde se enunciasse a par e passo o destrinçar do enleio pelo discurso, facilitando a lógica compreensão de algumas construções e termos já fora de uso, e, portanto, incomuns ao pouco letrado leitor.
Porque, afinal, em matéria de arte, de cultura, de civilização, de modernidade, de publicações, de espectáculos, o que está sempre em causa são os conteúdos, muito para além dos suportes, das formas e das audiências como de resto bastantes desconfiam (ou outros tantos sabem). «Filmes! Filmes! Os melhores, se assemelham aos grandes livros», disse Manoel de Oliveira, no centenário do seu nascimento, reiterando um poema escrito noutras idades. Dele, é claro, que deveras nelas se terá sobejamente indefinido e, consigo, a arte e a vida, se alguma diferença entre ambas encontrou. Que eu, (ainda) não!
Jorge Ferreira de Vasconcelos
Teatro – 160 Páginas
Há uma ideia feita – aqui desfeita –, nos bastidores da cultura – talvez inculta... –, de que a poesia é para se declamar, o teatro para representar e os romances para ler (e publicar), assaz disseminada pelas confrarias da intelectualidade conventual e pacóvia do branco é, galinha o põe! Ora, além de feita, a ideia é estupidificante. E para provar que nem só de sentimentos serôdios e retornados vive o universo literário e livresco português, veio a Colibri a terreiro e colocou em cena, nos escaparates, uma colecção de teatro, cujo número foi, nem mais, que uma adaptação de Silvina Pereira e Rosário Laureano Santos, aliás anteriormente representada pela companhia de teatro MAIZUM, ali ao Bairro Alto, no Convento dos Inglesinhos, pela recôndita Lisboa de 1995, com estreia em 27 de Março. E do posto fica que, quem viu, viu; quem não viu... pode ler!
Nesta peça, que denota inegáveis influências literárias renascentistas e medievais, a acção é tipicamente portuguesa e revela-nos aspectos da vida quotidiana e modos de pensar do século XVI, tão materialista quão beato, quer nos seus vários estratos sociais, hábitos e costumes, como nas atitudes e perfis psicológicos dos personagens; e tanto, ou de tal forma, que a própria, dita de Eufrósina, a que se interpreta alegria, nascida na antiga Coimbra, então coroa destes reinos (Portugal e Algarves), à sombra dos verdes censeirais do Mondego se entrega ao curso da vermelha lava dos desejos sem brida nem temor, numa obra com exemplar grafismo em capa mole, de fácil manuseamento, apensada dos respectivos prefácio, introdução, ficha cénica, elenco, fotos (re)tiradas às cenas, manifesto artístico do Maizum e currículos das adaptadoras. O que a complementa seriamente, embora tenhamos que reconhecer, quanto ainda carece igualmente de um glossário onde se enunciasse a par e passo o destrinçar do enleio pelo discurso, facilitando a lógica compreensão de algumas construções e termos já fora de uso, e, portanto, incomuns ao pouco letrado leitor.
Porque, afinal, em matéria de arte, de cultura, de civilização, de modernidade, de publicações, de espectáculos, o que está sempre em causa são os conteúdos, muito para além dos suportes, das formas e das audiências como de resto bastantes desconfiam (ou outros tantos sabem). «Filmes! Filmes! Os melhores, se assemelham aos grandes livros», disse Manoel de Oliveira, no centenário do seu nascimento, reiterando um poema escrito noutras idades. Dele, é claro, que deveras nelas se terá sobejamente indefinido e, consigo, a arte e a vida, se alguma diferença entre ambas encontrou. Que eu, (ainda) não!
Comentários