A VIDA NÃO ESTÁ PARA MONOPÓLIOS NEM HEGEMONIAS ESPECÍFICAS
A
VIDA NÃO ESTÁ PARA MONOPÓLIOS NEM HEGEMONIAS ESPECÍFICAS
É da transformação dos nossos afetos,
convicções e valores que nascerá a possibilidade duma relação ética entre o ser
humano e a terra, a terra de cada um e cada uma, ou a nossa Terra, assente no entendimento da ecologia, tanto enquanto
casa, como enquanto causa, considerando que lhe é característico
proporcionar-nos o funcionamento do planeta. A moção não é de agora, pese
embora nunca antes ela se tenha revelado com semelhante premência e pertinácia.
Desleixámo-nos, atrasámo-nos, durante décadas, ao preteri-la. Pelo que, adiá-la
se configura numa espécie de suicídio coletivo, ou genocídio global. A terra
não são apenas os solos das explorações agrícolas, florestais e pecuárias, mas
também uma fonte de energia que atravessa prados, vales e montanhas, animais e
plantas, e se traduz em sistemas vivos e vivicantes, organicamente estruturados
e com meritório perfil de consideração moral e humanitária. Porque é a vida de
todos e todas nós que ela cultiva e sustenta, incluindo os que não acreditam
nisso, os que se estão nas tintas para o facto, os que poluem e destroem
habitats e matam espécies em perigo de extinção, como também o que ainda não
nasceram e por tal se entendem como semente do nosso futuro.
Extensão ética que se justifica a si
mesma porquanto já não nos podemos limitar à conquista da terra, a ser seus
possuidores, donos e senhores, como outrora fomos, porquanto, e ao invés,
passámos a ser simples elementos, figurantes, membros duma comunidade biótica
alargada, que nos exige respeito igual por todos os constituintes
(biodiversidade) como por todos os nossos irmãos e todas as nossas irmãs (ou
espécie humana). Caso contrário, arriscamo-nos, não só a infligir danos
irreversíveis ao ecossistema, ao nosso habitat, aos mais frágeis de nós com
pestes e catástrofes, poluições, assimetrias, miséria e guerras civis, mas
também a todos e todas que se radicaram no mundo desenvolvido e abastado, que
nem sequer têm contribuído para além do inevitável para o atual estado de sítio
universal: a Europa rica da sociedade da informação e das novas tecnologias, e
a que concorremos sempre que o nosso crescimento económico aumenta.
Pensar que podemos sobreviver ao
fenecer e sucumbir das demais espécies protagonistas deste nosso enredo
ecossistemático, não só é um erro de palmatória como uma demonstração de má
índole. Hoje, como durante milénios anteriores, o são evoluir da sociedade
depende quase em absoluto desse diálogo em simbiose entre as organizações
naturais e as organizações sociais, das quais as microeconomias como as
macroeconomias são somente o cocuruto visível desse enorme iceberg.
Joaquim Castanho
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