DA ÉTICA, E SUA PRÁTICA



DA ÉTICA,  E SUA PRÁTICA....


A atribuição dum valor instrumental aos ecossistemas (unidades geradoras de biodiversidade essenciais para o funcionamento global da Terra), conduziu-nos à necessidade de repensar a atitude humana para além do seu natural convívio e relacionamento com os demais seres vivos e elementos da natureza (solo, rochas, água, condições climáticas, ar, processos geológicos e físico-químicos, etc.), a fim de melhor nos habilitarmos para estabelecer, preservar e otimizar a simbiose que com eles somos obrigados a cumprir, enquanto simples membros altamente interessados do pacto universal da vida, que quer ser eterna e que, entre as estratégias que gerou para o conseguir, uma delas, nós, a humanidade, tem tido grande êxito neste planeta.

Portanto, de acordo com esta perspetiva ecocêntrica, que historicamente tem como fundador Aldo Leopoldo (1886-1948), de cujo registo inicial nos ficou A Sandy Country Almanac – Pensar Como Uma Montanha, traduzido e editado em fevereiro de  2008, pelas Edições Sempre-em-Pé –, principalmente o ensaio The Land Etich, a Ética da Terra que, sendo uma conceptualização filosófica tem funcionado como guia normativo para as questões da preservação dos espaços selvagens, de controlo da poluição ou poluições, do consumo da energia e da utilização dos recursos naturais que rompem com o modelo econimicista tradicional, é importante que revejamos a nossa maneira de estar na ecosfera e anseio de desenvolvimento e bem-estar, uma vez que o estamos a cometer contínuos atropelos e subtrações da biodiversidade no ecossistema que integramos, e a que vulgarmente chamamos meio ambiente.    

Disse-nos ele "que só a montanha viveu o tempo suficiente para ouvir com objetividade o uivo do lobo", pois a nossa lucidez e disponibilidade para tal tem estado bloqueada para reconhecer que os sistemas ecológicos são fruto de uma evolução lenta de milhões de anos, onde quanto menos violentas são as suas alterações, maior será, e mais fácil também, o reajustamento a elas da comunidade biótica. É esse bloqueio que se apresenta hoje como causador das principais tragédias e degradação visíveis no nosso habitat. E quem o tem promovido, assegurado e consubstanciado, têm sido as principais instituições que foram criadas EXATAMENTE PARA GARANTIR a simbiose (*) social a que chamamos nação, país, povo, quer o enquadremos num território restrito, como o português, quer o façamos em termos mais alargados, ou europeus e continentais. Ou seja, à democracia não basta ser chamar-se democracia para ser um bom sistema: é também preciso que contemple a gestão democrática das instituições e organismos que a representam, executam e cumprem. Entre elas, sobretudo, as do foro político, da economia, dos órgãos de soberania, da cultura, do ensino e a da ciência.

Será que elas estão dispostas a acatar as suas responsabilidades, neste capítulo, ou seremos nós quem vai fazê-lo – por os eleitos “democraticamente” que as tutelam disso terem abdicado – , através das próximas eleições? É importante que se decidam, pois os homens e mulheres responsáveis, emancipados, democratas, participativos, conscientes e eticamente esclarecidos, não podem continuar sentados no sofá a observar o mundo esmoronar-se e perecer sem avançarem um passo que seja no sentido de evitar ou retardar a anunciada derrocada.  


Joaquim Castanho

(*) SIMBIOSE SOCIAL –  Vida comum, sociedade, comércio; fenómeno pelo qual organismos diferentes se prestam apoio mútuo, a fim de contribuírem para o desenvolvimento dos meios de vida limitados de que dependem, e que, embora com posições e funções diferentes e complementares, se empenha na defesa às ameaças e obstáculos que lhe amputam a sustentabilidade.   


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