O LADO NEGRO DA ALQUIMIA






O LADO NEGRO DA ALQUIMIA


"é impossível uma leitura do obscuro, sem a sensação de nos enganarmos"

in ANTÓNIO JACINTO PASCOAL
A Necrópole Mediterrânica
(Público, 26 de abril de 2015)

A vida é um milagre universal que também aconteceu na Terra vai para quatro milhões de anos, e a que nós, humanos, apenas foi possível assistir, partilhar, viver e testemunhar, há somente 200 mil anos, qualquer coisa como uma gota de água na piscina do tempo. Durante aproximadamente 199 940 anos fizemo-lo contemplando e respeitando o equilíbrio da natureza e ecosfera, já que delas dependíamos em absoluto; porém, nos últimos 60 anos deitámo-lo por terra, quebrando-o com a nossa pegada, marca, impacto ambiental, sob a justificação de que o fazíamos para melhorar de vida, em prol do desenvolvimento e progresso, arriscando-nos a devolver o planeta ao seu estado larvar, pelo andar da carruagem, num futuro não muito longínquo, em que ela era tão-só um caos de fogo, formado por consequência do despertar da estrela que ainda hoje nos aquece e ilumina: o sol.

E a História da Humanidade não é mais que o registo do sacrifício do equilíbrio dos múltiplos ecossistemas em que a Terra se compartimenta aos nossos interesses específicos. Fizemo-lo com a economia de subsistência, intensificá-lo na sociedade de produção e extremámo-lo com o modelo liberal consumista, ainda em vigor, pelo que o ponto de degradação alcançado stressou tanto a natureza e os seus elementos, que ela e eles já se não coíbem de, amiúde, pagar-nos na mesma moeda. «Ora toma lá, a ver se gostas», diz-nos ela (e eles), como contrapartida por nos termos deixado de integrar nela, exigindo-lhe que seja a natureza a adaptar-se a nós, às nossas necessidades sociais, aos ditames civilizadíssimos do nosso gregarismo, exemplarmente humanitário, como eticamente gostamos de justificar, argumentando que o fizemos para combater a subnutrição e fome dos povos. Coisa em que eles não acreditam nem veem acontecer, e muito menos ela nota... Porque será?

Há razões tão obscuras que até o obscurantismo as desconhece.

Joaquim Castanho          

 

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