A Lavadeira, do Eurico
Das lavadeiras que as águas dos tempos devolvem à cidade... Não sei quem era o Eurico portalegrense, nem tampouco o que fazia, mas o que é certo, é que ao tempo a que pertence, Maio ou Junho de 1898, um tal Eurico aqui havia, sentindo coita e dano por um biscoito, com que uma lavadeira chamada Maria molhava o pano, e pior, além de lho molhar também lho torcia, espanejava e batia, com vigor tamanho que lhe escurecia e abalava a musa, punha negrume na tusa, obrigando-o a ensaboá-la com poesia, num suplemento cultural e literário de A Plebe , tão vetusto e plural, que igualmente aí se tecia, a notável biografia, do Barão de Machial. Eis a pérola: A LAVADEIRA A lympha mirando Que branda deslisa Batida da brisa Tão fria, Na margem do rio Tão junto à corrente Que tens tu na mente, Maria? Fitando a areia D'um branco doirado De rosto inclinado Na mão, Que ideias o peito Te vem embalar Fazendo o pulsar Em vão? Não sabes, Maria, Que negro desgosto A côr faz do rosto Perder? Afasta, bem longe