Nove e a Morte São Dez
Nove e a Morte São Dez
Cárter Dickson
Trad. Catarina Rocha Lima
224 Páginas
Com um exemplar da família dos Crimes em Quarto Fechado, Carter Dickson, ou John Dickson Carr, que vem a dar no mesmo indivíduo, estabelece uma trama detectivesca, a descambar para a de espionagem, onde a confusão e número são parentes próximos senão os principais personagens, ou protagonistas. E é precisamente a definição do número – esta coisa dos números quando se metem nas letras dá sempre enredos bicudos, capicuas de obradura, diremos… –, quem vai forjando as diversas confusões. Primeiro, é a do quantitativo dos passageiros do paquete – outra!... – que transporta material de guerra, tipo cargueiro, em que, conforme o título, seriam nove, mas só aparecem oito, que afinal são sete quando parecem dez. (Ou não?... Bom: o melhor é mesmo ficar por aqui, e contar apenas pelos dedos!)
Em seguida são os detectives. Que começam por ser um, mas passam a dois, depois três, quatro, quando a deusa do génio resolve beneficiar o mais velho que, por sinal, é também o mais experiente e sagaz. Após o que vêm os crimes… Que parecem três ou quatro, mas afinal são só dois, e ao último de pouca conta, em que mal se dá por ele.
No entanto, o que é igualmente verdade, se considerarmos bem, o grande talento dos “jogadores” reside mais no embaralhar das cartas do que na destreza ou pose ao virá-las. E é exactamente nesses dois pontos – baralhar e virar – que o autor mais nos surpreende, atirando-nos para um daqueles remates magistrais somente possíveis no género policial, devolvendo-nos o óbvio assassino, depois de o termos rejeitado sem qualquer relutância (e por isso mesmo: por ser demasiado óbvio). Preparados, cozinhados, postos no lume brando de uma narrativa em que nada daquilo que parece é, deixamo-nos enredar e não “vemos” como é isso o que o autor precisamente quer, para que ele, antecipando-se-nos, prove definitivamente que naquela história quem manda é ele, fazendo exactamente o contrário do que esperávamos, demonstrando-nos, enfim, pelo menos uma vez, e em termo de q.b., que aquilo que parece também pode muito bem ser. Aliás, felicidade que nos reconforta e estimula a autoconfiança, dá prazer neste namoro narciso entre nós mesmos e as nossas faculdades, que o faz raiar outro género: o cor-de-rosa!
Cárter Dickson
Trad. Catarina Rocha Lima
224 Páginas
Com um exemplar da família dos Crimes em Quarto Fechado, Carter Dickson, ou John Dickson Carr, que vem a dar no mesmo indivíduo, estabelece uma trama detectivesca, a descambar para a de espionagem, onde a confusão e número são parentes próximos senão os principais personagens, ou protagonistas. E é precisamente a definição do número – esta coisa dos números quando se metem nas letras dá sempre enredos bicudos, capicuas de obradura, diremos… –, quem vai forjando as diversas confusões. Primeiro, é a do quantitativo dos passageiros do paquete – outra!... – que transporta material de guerra, tipo cargueiro, em que, conforme o título, seriam nove, mas só aparecem oito, que afinal são sete quando parecem dez. (Ou não?... Bom: o melhor é mesmo ficar por aqui, e contar apenas pelos dedos!)
Em seguida são os detectives. Que começam por ser um, mas passam a dois, depois três, quatro, quando a deusa do génio resolve beneficiar o mais velho que, por sinal, é também o mais experiente e sagaz. Após o que vêm os crimes… Que parecem três ou quatro, mas afinal são só dois, e ao último de pouca conta, em que mal se dá por ele.
No entanto, o que é igualmente verdade, se considerarmos bem, o grande talento dos “jogadores” reside mais no embaralhar das cartas do que na destreza ou pose ao virá-las. E é exactamente nesses dois pontos – baralhar e virar – que o autor mais nos surpreende, atirando-nos para um daqueles remates magistrais somente possíveis no género policial, devolvendo-nos o óbvio assassino, depois de o termos rejeitado sem qualquer relutância (e por isso mesmo: por ser demasiado óbvio). Preparados, cozinhados, postos no lume brando de uma narrativa em que nada daquilo que parece é, deixamo-nos enredar e não “vemos” como é isso o que o autor precisamente quer, para que ele, antecipando-se-nos, prove definitivamente que naquela história quem manda é ele, fazendo exactamente o contrário do que esperávamos, demonstrando-nos, enfim, pelo menos uma vez, e em termo de q.b., que aquilo que parece também pode muito bem ser. Aliás, felicidade que nos reconforta e estimula a autoconfiança, dá prazer neste namoro narciso entre nós mesmos e as nossas faculdades, que o faz raiar outro género: o cor-de-rosa!
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