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Mostrando postagens de 2016

DA TIMIDEZ (IN)CONCLUDENTE

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E AINDA HÁ ALGUÉM QUE SE PERGUNTE PARA QUE SERVE A EUROPA?

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E AINDA HÁ ALGUÉM QUE SE PERGUNTE PARA QUE SERVE A EUROPA?  Se “a lei pune os funcionários públicos e os titulares de cargos políticos, que, no exercício das suas funções ou por causa delas, solicitarem ou aceitarem, vantagem patrimonial ou não patrimonial, que não lhes seja devida” (conforme afirma NARCISO MACHADO, juiz desembargador jubilado, no artigo de opinião A lei e ética como limites da acção política , constante do jornal Público nº 9620, do XXVII ano, de 18 de Agosto de 2016), então é, no mínimo, absurdo que ao abrigo dos usos e costumes tal não aconteça, em Portugal, com a regularidade e frequência necessárias e suficientes para sairmos dos lugares cimeiros do ranking dos países mais corruptos da Europa. Principalmente porque a “autorização legisladora” nacional, de acordo com a ordem (constitucional) vigente recai e está centrada na Assembleia da República e no Governo, o que indicia, consequentemente, que foram os políticos, instituições e altos funcionários do

ALMAS UNIDAS NUM SÓ ESPÍRITO

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ALMAS UNIDAS NUM SÓ ESPÍRITO…  Aguarelas de poesia e Encontro de poetas 2015/16 Coletânea – Edição de Autor “Que tenho sereias que se despem de peixe  Assim, na exata latitude de teu ser…” In Joaquim Castanho IÇADO (OURIÇO) DO MAR  (Página 106) Da explícita (ou implícita) simbiose que há entre a pintura e a poesia, nasceu um projeto que se configurou numa sequência de ações, eventos ou exposições, e que, finalmente, sob a coordenação de David Marques, revisão gráfica de Teresa Carvalho e patrocínio direto da Câmara Municipal de Torres Vedras e Junta de Freguesia Santa Maria, São Pedro e Matacães, se traduziu na edição de um livro de 298 páginas onde se reúnem e integram as colaborações a propósito de cerca de meia centena de poetas, dez pintores e algumas outras participações avulso, cujo resultado global é valorativamente superior à soma das partes, não só pelo seu contributo para a cultura do lugar, como também para a poesia, a língua portuguesa, a pa

POUSO, de MARILU FAGUNDES

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POUSO "Entranhas da terra mãe / Abraçadas às filhas com afinco", as palavras/os signos e os seus referentes, concorrem para a preterição final: dizer através da negação do dito, revelando-lhe o avesso, as costuras. Não é fragilidade alguma, não é uma confidência ou lamento, não é uma carência de inspiração, não é um faz de conta, não é um truque de prestidigitação, não é uma afetação de estilo, não é um maneirismo palimpsestuoso: é a exposição (assumida) do timbre lúdico e mágico da poesia, essa pretensa coisa abstrata que apenas acontece quando a condição material sine qua non se concretiza, se mostra nas suas múltiplas facetas, particularidades que preenchem o vazio que lhes está reservado no cantinho estético-ético pluriforme e polissémico, que é apanágio instaurado e instituído no topo da pauta de valores, caraterísticas e potencialidades da espécie humana (a espiritualidade), da qual cada, uma ou um de nós, é humilde exemplar, sobretudo por que sensíveis ao

FEIXE HELICOIDAL

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FEIXE HELICOIDAL  Considero infinitos os voos...  Não há céu que os segure, limite.  Apenas porque nascem de teus olhos E da magia que o sorriso transmite.  Nada receio; nenhuma espera cansa.  Que ver-te não é fim ou sequer meio,  Mas entretecer vida numa trança.  Joaquim Castanho 

ETERNA, poema de MARILU FAGUNDES

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A ETERNA VIA A poesia é eterna; porém, composta. Múltipla. Versátil. Plural e reincidente. Trajeto radical entre a infelicidade suprema e a máxima perfeição.   Por conseguinte, e por isso mesmo, só sobreviverá em plena autenticidade e evidência incontestável, não raras vezes recorrendo a parcerias com as demais artes para conseguir a visibilidade que lhe é essencial – a música, o teatro, a pintura, a prosa, a fotografia, o cinema, a paisagística, a arquitetura, a decoração urbana, o design, etc. –, para existir continuamente no agora, pelo que os poetas e poetisas e seus respetivos poemas (concretos, materiais), tendem a reconhecer-lhe a soberania e, humildes e dedicados, se resumem a meros acompanhantes, veículos, discípulos, de sua ordenada magistralidade, competência e estatuto. Simples partes elementares de um todo, relativamente essenciais, é claro, e que dele comungam com idêntica relatividade, estabelecendo essa cumplicidade relativa que assiste aos namoros de long

VOO ININTERRUPTO, a propósito de poema de MARILU FAGUNDES

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VOO ININTERRUPTO  Com a frugalidade estoica dos momentos heroicos, Marilu Gonçalves Fagundes (MF) compartilhou connosco um poema completo, de apenas dois versos, é certo, mas que nunca poderá ser considerado um epitáfio, que seria um fragmento hiperbolizado de qualquer existência que atingira o definitivo termo, numa sinédoque em trânsito, ou pleno voo, de quem dá voz a uma pena, não a da dor, não a do fado, não a do lamento, não a do naufrágio, não a da compaixão, não a da culpa e do remorso, não a do choro carpideiro, mas a pluma branca e imaculada da escrita, e que, despegada, solta, exilada e carecendo de vida e significados próprios, visíveis, efetivos, eficazes, determinados e suficientes, é, todavia, além de parte elementar de um todo, seja ele corpo, ave, organismo, instituição, clã, tribo, grémio, sociedade, povo, estandarte, símbolo, voz, de gente mas, também, quiçá de rua, bairro, clube, distrito, cidade, município, região, geração, arquipélago, nação, continente

O FIO DE MARILU, acerca de um poema de Marilu Fagundes

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O FIO DE MARILU  As pessoas pensam para encontrar soluções – seguem o fio do pensamento, como soe dizer-se... – plausíveis, de resolução satisfatória e propiciadora de estabilidade para a agitação (expetativa) ou tédio (ausência de expetativa) das águas em que navegam, desde que seja líquido e racional (transparente e objetivo) o meio filosófico-social a que foram acomodadas, pelo que lançam âncoras que as escorem ao presente, as abasteçam de passado e lhe incutam esperança no futuro, mas, principalmente, lhe preencham o imaginário, que é um tempo ao mesmo tempo dentro e fora do tempo, sem princípio nem fim, ainda que recheado de fins e princípios (valores), participante e interessado por quota-parte, ações e juros no presente, passado e futuro de cada vivente, irremediavelmente alicerçado por absurdos e abstrações, possuindo todavia direito de manipulação justificado pela teoria de vida do indivíduo, das linhas de comando existencial dos seres humanos, suportadas nos ideai

MÍSTICA, de MARILU FAGUNDES

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MÍSTICA  Olhar para cima, sobretudo de noite, que é quando se vê melhor nessa direção do que em qualquer outra, sempre foi um acelerador da vontade de conhecimento em homens e mulheres, desde os primórdios da humanidade – senão antes. E desse aspirar mais alto, nesse buscar infinitos, vimo-la...  E "ela", a que ora contemplamos, é precisamente a mesma lua que há dez milénios atrás, pelo menos!, outros homens e mulheres em simultâneo com outros milhares de homens e mulheres, espalhados pelas mais diferentes regiões do globo, quiçá do interior de suas cavernas, o que faz dela o mais antigo monumento da Terra e indesmentível peça do património cultural do mundo, tal como se nos depara atualmente e a História do ocidente advoga, a do oriente corrobora, a do norte não enjeita e a do sul subscreve. Gerações e impérios tiveram-na como princípio fundamental. E da sua observação nasceu o primeiro calendário credível, consensual e estatuído para além das esferas microssoc

CULTIVAR A VISÃO, a propósito de um poema de MARILU FAGUNDES

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CULTIVAR A VISÃO...   "Amo tudo o que vejo" enuncia (e decreta fundamentalmente) a poetisa, logo à partida, de forma inequívoca. Marilu Fagundes (MF) diz-nos que ama tudo o que vê, e não que vê tudo o que ama, que, por sinal, até pode ser visto "mesmo [que] distante e imprevisto". Ela não tolera, não integra; ela inclui o que vê no seu universo de afetos. Ver é compreender, é amar. É entender por que uma coisa é uma coisa e não outra coisa qualquer. Compreender os filhos porque se amam, reconhecer algo porque se aprecia, identificar na multidão alguém de quem se gosta, é circunstância viável para os demais seres vivos, e temos exemplos ilustrativos disso em todos os reinos e espécies, havendo até animais que são capazes de matar ou de morrer para defender os que amam, nomeadamente os seus pares ou crias, justificando-lhes assim a existência e a importância (material ou imaterial) que lhe concedem. Assimilar, "transformar-se o amador na cousa amada&q

FLORES, por MARILU FAGUNDES

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FLORES  Nascer, crescer, procriar e morrer, são as quatro linhas de contínuo para o entrançado DNA da vida, cuja trajetória mais lhe pertence do que a cada espécie de seres vivos que, grosso modo, mais não são do que outras tantas estratégias que ela, a vida, gizou para se tornar eterna, ainda que simples e natural. Cada espécie tem o seu tempo e modo próprio de o fazer, de o transmitir, de o cultivar. No reino vegetal, a flor, é o engalanado que todos os espécimens adotaram para ser os seus não despiciendos dramaturgos, os intérpretes essenciais à polinização desejável, ansiada e não raras vezes apoteótica. São a sua ode triunfal... E, exatamente por isso, em todas as épocas e socorrendo-se de uma infinidade de estilos e formatos possíveis, tão plausíveis como quaisquer outros, os poetas e poetisas desde os tempos sumérios e imemoriais, têm encontrado nelas motivos de inspiração, recursos de persuasão, oferendas preciosas, símbolos de beleza e de poder, atentos ouvintes e

SE NÃO CHOVER VAI ESTAR UM LINDO DIA

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SE NÃO CHOVER VAI ESTAR UM LINDO DIA  Me decorrem do sangue as veias Em marés de estro e luas cheias,  Da raiz à sombra com que devora Toda a luz – fulgor intransigente... É o inverno que parte se o verão  – Truz-truz – lhe bate à porta Perguntando se há gente.  Mas na casa do tempo nasceu Senão Para quem a esperança é letra morta E que, embora não desejado,  Escancar'as folhas descuidado Para o anfitrião que nunca esgota.  – Truz-truz – é o verão a bater;  Mas Senão não vai responder.   Que o tempo ora perdido ora Preenchido se ora também pede;  E mesmo se o atiramos fora  É sempre um Zenão que nos mede.  Joaquim Castanho  

ÍNTIMA REPÚBLICA

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ÍNTIMA REPÚBLICA  Pronta mas liberta a ordem vigente Se amplifica original e certa,  Quando à franja especial atente Por correta, e de justo alerta,  Tão de repente, que por si aperta,  E limita o sentido do realmente.  Tanto se estende como contrai.  Tanto se preenche como s'esvai. Tanto alicia pra sentidos novos Como actualiza o ser dos povos.  Que a ordem se orienta pla razão E vontade de justiça no Direito,  Plo que é vinculativa prà nação E é república em nosso peito.  Mas a lacuna oculta subsequente Que a nosso criar on line abarca,  Nem restringe se mau uso faz a parca Gente do que é nobre e pertinente,  Pondo em vão vida, feitos, esp'rança De quem partilha e aos mais alcança.  Joaquim Castanho  

PINGA A PIPA, PIA O PINTO

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PINGA A PIPA, PIA O PINTO Lengalenga ajuizada Tem pandeireta, bandolim,  Tambor, violão, e a passada De quem passeia plo jardim.  E às vezes um violino A fazer de bom cometa,  Qu'arranha nosso destino Onde nenhuma flor é certa.  Serpenteia pla tradição Que nem espiral, remoinho Para moer mas sem pilão  Nossas pedras do caminho.  Lengalenga se dançada Em correria pelo sertão,  Traz alvoroço à criançada Ou traz chuva prà criação;  Nuns sítios parece nada,  Noutros, brota vida do chão.  Joaquim Castanho 

TRATAR IGUAL O IGUAL / TRATAR DIFERENTE O DIFERENTE

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TRATAR IGUAL O IGUAL TRATAR DIFERENTE O DIFERENTE Meia volta, volta e meia O destino indica ao ser A lei por que se enleia Somente porque quis viver.  Faz suas preces à lenda,  Alinha deuses por poder,  Abre sulcos numa senda Pra dificultar percorrer.  Acoita vis predicados,  Admoesta o inocente,  E sem olhar par'os lados Fita passados de frente...  Que é equidade assente Tratar com modo vário Tudo o que é diferente  – E mente, e mente, e mente  Quem disser o contrário.  Joaquim Castanho

PROPOSIÇÃO «LEGAL!»

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A PROPOSIÇÃO «LEGAL!»  Do pleito a lei remissiva tem Numa ficção onde o prevê,  Aquele olhar que é também  Aquela descrença que o crê.  É distinta mas não acaba.  É um mas qu'outro mesmo vale.  E sendo núcleo serve de aba Prò dito restrito que o cale. Entrementes finge outro ser Sendo o exato clone de si,  Que a palavra lei pode ter Outra ca prenda agora aqui. Joaquim Castanho  PROPOSIÇÃO – acto ou efeito de propor, expressão do juízo, primeira parte de um discurso ou de um poema onde se expõe o assunto que se vai tratar, asserção, princípio, máxima, expressão de um ou mais pensamentos por meio de palavras, oração (gramatical ou não).  

OBTUSO RADICAL

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OBTUSO RADICAL  Alojado no cerne da derme O verme discerne a cor,  Pra que concerne aquele supor Com que alterque e alterne  (Uniforme e extreme)  Seja com quem for!  Joaquim Castanho 

NO APERTO DA LEI

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NO APERTO DA LEI  Adoeceu-me a dor.  Deu-lhe de repente.  Ontem 'tava boa,  Mas hoje 'tá doente.  Adoeceu-me a dor...  E num instante, Não há que me doa  Daqui em diante. Milagre? Não sei...  Remédio... Quem sabe!  Se o amor é Lei, A dor não lhe cabe. Joaquim Castanho  

DOCE FAINA

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DOCE FAINA  Na solidão de tuas correntes Meu aconchego, meu naufrágio Nos sentires por que sentes Sou teu argonauta, e contágio. Que a rima me trouxe à vela Quando rumei só, sem medida,  E pouco a pouco plas marés dela Me ancorou à própria vida  – Com gestos de rosa à bolina Pleno vogar de espinho manso, Abranda o ser que me inclina, Alcança o ritmo no balanço.  E assim, encantado por sereia A cujos suspiros estremeço,  Aliso teus cabelos de areia  – Acúmulo os beijos que te peço.  Joaquim Castanho 

SONHO AZUL

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SONHO AZUL  Me desbasta a vida pouco a pouco Como um respirar de brandura,  Que percorrer o sonho é de louco  – Tal água mole em pedra dura. Intenso, por vezes, áspero até Acelera o pensar se o penso Carrega-me o desespero de fé.  A sua estirpe torceu o mundo Conduzindo-o bem para lá do lá,  E deu-lhe um céu tão profundo Que, se o chamarmos, ele virá.  Forjou o voo imortal e ufano,  Com que o mais simples animal Se tornou racional – e humano.  E assinou o espaço infinito Com laivos de angelicais penas,  No sussurro azul desse grito De onde nascem todos os poemas.  Joaquim Castanho 

A GENICA DO POEMA

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A GENICA DO POEMA  Entre a pré-compreensão e a compreensão Há um número infinito de poemas Que escapam à nossa interpretação,  Ocultos em subtemas de seus temas. Uns, são oriundos do vocabulário;  Outros, têm origem no inconsciente.  Porém, todos são também seu contrário Mesmo que o não tenhamos pertinente.  Se lidos, as mais das vezes, tão-só são Lineares encadeamentos de palavras;  Mas ao ouvi-los mudam sempre a questão E acrescentam à nossa vista outra visão,  De que as metáforas também são escravas.  Que na vida, nenhuma sílaba é serena...  Este mesmo poema me disse a mim, hoje Que o seu significado só vale a pena Se ao temo-lo ao mesmo tempo nos foge! Joaquim Castanho

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FÉ  A impertinente Felicidade, que ainda é jovem mas se não chama também Maria, estava, num dia assim, exatamente como hoje, fazendo nada, com todo o cuidado e esmero, que é coisa mais difícil de fazer do que qualquer outra que se conheça, quer por experiência tida, como contada, exceto esquecer, pois que para isso, se exige muita perícia na escolha e abnegação na armazenagem, caso contrário, a gente fica a esquecer aquilo que quer recordar e a lembrar tudo quanto importa esquecer. E do nada surgiu uma flor. E depois um rosto, que embora de corpo oculto, já se lhe podia vislumbrar o espetro das mãos. Precisamente como se fosse um sol incrustado no horizonte da tarde ou uma lua pendurada da noite, suspensa por invisíveis e misteriosos fios (da trama suspeita e, às vezes, até tenebrosa, dos sonhos, que são sempre desconhecidos por nós nela, como pelos efeitos de ressaca com que desassossegam os espíritos, os corpos e as culturas, a que à imaginação e fantasia não têm muita

REMANSO MATINAL por Joaquim Castanho

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REMANSO MATINAL  Espécie de silêncio, na fala O vento murmura à água,  Quanto a nossa luz exala Doçura e plácida trégua.  É a fidelidade eterna Numa canção que mal se ouve; Mas, como raiz viva, moderna Só nossa sombra a promove.  Porém, da manhã, um cicio Sem lamento que a estorve,  Pede ao momento seu brio   De instante que a renove...  que a renove... que a renove... que a renove... que a renove... E ele escuta. A água escreve. Joaquim Castanho 

POR QUE AMANHÃ É SÁBADO

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POR QUE AMANHÃ É SÁBADO Em Uruk, na eduba do templo a Inanna, foi encontrada nos princípios do século passado, entre os algures do tempo, do modo e do lugar, um cofre, uma caixa guarnecida a ouro e prata, com pedras preciosas incrustadas, dentro da qual estavam seis tabuinhas, que se supõe terem sido consideradas sagradas pelas vestais.  Na primeira, estava vincado, cunhado, escrito, assim: «a cada qual o mesmo que aos seus pares». Na segunda dizia que «a cada um segundo os seus méritos». Na terceira, que «a cada qual conforme as suas obras». Na quarta «a cada um na estrita observância de suas necessidades». A quinta afirmava que «a cada qual de acordo com o que lhe é devido por lei». E a sexta, concluía, que «a cada um consoante a sua posição, responsabilidade e obrigações». Porém, depois desta, havia uma prateleirinha idêntica àquelas onde repousavam as citadas tabuinhas, mas vazia.  Os estudiosos, arqueólogos, antropólogos e historiadores, conjeturaram ter havido ne

BARTOLOMEU FILIPE

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«Teniendo los principes de negociar con muchas y muy diversas personas, no menos necessario les es aprovechar-se de cautelas y astucias de los idiotas que de las letras y ciencia de los letrados, porque, como dicen, la mitad del año se vive con arte y engano, y la otra con engaño y arte. Para los negocios que penden de conciencia y justicia aporvechan los letrados, y para cobrar las rentas y tractar los negocios que pertenecen a la hacienda de la Republica los idiotas astutos... Los letrados son preplejos en resolverse en los negocios sobre que se consulta porque se les representan muchas dificuldades y muchos inconvenientes que los hacen llenos de respectos y imaginaciones que ningun provecho hacen.» in BARTOLOMEU FILIPE (1584)