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Mostrando postagens de novembro, 2008

Superstições Populares Portuguesas

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Superstições Populares Portuguesas Benedita Araújo 152 Páginas "Aquelle que se põe da banda do fuso Ou é tolo, ou não tem uso." Como contribuição para o estudo do nosso inconsciente colectivo, este livro arrola e intenta interpretar a maneira como o povo português foi transformando as suas suspeitas infundadas e crenças em valores bioculturais herdados da ancestralidade, manifestada mais concretamente, quer no plano tradicional, quer ao nível religioso e das instituições, quer no biológico, sanitário e sexual, face a certas atitudes e práticas, rezas, pensamentos rituais, a que é comum atribuir forte carga mística e poder mágico, mas sob uma perspectiva etnográfica, ou dos costumes que se consideram relevantes enquanto vivências culturais presentes, testemunhos continuamente (re)actualizados do nascer e do morrer, do trabalhar e do folgar, do cuidar e do desfrutar, das diferentes formas de encarar a relação do homem com as entidades míticas superiores, de reagir perante as os

A Primeira Esposa, de Françoise Chandernagor

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A Primeira Esposa Françoise Chandernagor Trad. Clarisse Tavares Este livro é uma extensa carta de amor, escrita no feminino e eterno sofredor de coita, qual diário de bordo de um casamento desfeito, e enquanto deriva da navegação solitária num mar escabroso, pejado de infidelidades e traições múltiplas, cometidas por um D. Juan da actualidade, como indicativo daquilo que outrora terá sido regra dificilmente deixa de participar no presente, qualquer que ele seja e independentemente dos graus de civilidade que o circunscrevam. Sopro remanescente do amor submisso e feudal, a um senhor neofilista, bígamo constante, embora que nem sempre com as mesmas, narra a luta controversa de uma mulher que balança entre a sofrida presença do marido e a dor da sua ausência, entregando-se e forma convexa, convergindo alternadamente quer no amor, quer no ódio, no comodismo como na revolta, na solidão ou no mundanismo, no desespero como na esperança, mas a quem não faltou, contudo, a lucidez, objectividade

E vai mais uma!

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Lamentavelmente os números apresentados na crónica Proibido Olhar , de quinta-feira passada, logo na madrugada de sexta-feira foram inequivocamente alterados pois, conforme noticiaram diversos diários, às 5:30 h em S. João da Talha (Loures), um homem de 28 anos, conduzindo o seu prendado Mercedes, parou a viatura junto à bomba para bater na namorada, Cátia Sofia, de 22 anos, arremessando-a de seguida para a faixa de rodagem em que, precisamente nessa altura, circulava a carrinha duma pastelaria, talvez de transporte de bolos, que a atropelou, provocando-lhe a morte imediata. Mas não só: outros casos de maus tratos vieram a lume, de onde se depreende que num período de tempo relativamente curto tenham aumentado para quase 70, e isto não contando com aquelas que "comeram e calaram", porquanto são reféns da sua condição económica e dependem integralmente das gentilezas monetárias dos agressores. Todavia, as autoridades portuguesas, a justiça portuguesa e a comunicação social vig

Leslie Charteris, e O Santo

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O Santo em Miami Leslie Charteris Trad. Fernanda Pinto Rodrigues Nos romances de Leslie Charteris, que não são propriamente policiais, ou apenas policiais, mas antes imergem e mergulham no universo da aventura/espionagem/acção, os cenários são invariavelmente idílicos, poéticos, de comédia musical e glamourosos, o discurso quase barroco pelos floreados, e o sentido de humor recambia-nos para a gargalhada solta do enquanto a página se vira ao dedinho molhado. Na série O Santo , estas características acentuam-se. E aqui, fá-lo deambular pela exótica Miami, com garotas bonitas e manhosas à perna, qual Robin dos Bosques em ida a banhos, aldrabando os aldrabões, saqueando os gatunos, metendo os maus na linha e cortando as voltas à polícia – "o nosso destino estaria errado se não travássemos discussão com a autoridade", como ele diz a páginas tantas –, fazendo justiça à sua maneira e sob uma lei que inventou exclusivamente para o seu (templário) jeito de operar. Porque Simon Temp

Cuerpo de Mujer..., poema de Pablo Neruda

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Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos, Te pareces al mundo en tu actitud de entrega. Mi cuerpo de labriego salvage te socava Y hace saltar el hijo del fondo de la tierra. Fuí solo como un túnel. De mi huían los pájaros, Y en mi la noche entraba su invasión poderosa. Para sobrevivirme te forjé como una arma, Como una flecha em mi arco, como una piedra em mi honda. Pablo Neruda

Unidos Pela Guerra

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Unidos Pela Guerra Peter Cave Trad. Pedro Lopes d'Azevedo e Clarisse Tavares 304 Páginas A narrativa transcreve aquele período de eclosão da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente desde o Outono de 1939 até ao Verão de 1940, em que o dia a dia estava fortemente carregado pelas influências das propagandas e ideologias, e relata o quotidiano de duas famílias inglesas durante esse tempo, socialmente opostas e diferentes, uma burguesa e a outra plebeia, que se vêem obrigadas a conviver, incontingências da sobrevivência, e assim convergindo, não obstante todas as suas divergências no modus vivendi como de valores e filosofia de vida, ao se verem unidas pelo "santo laço do matrimónio" entre dois dos seus descendentes, numa altura de crise e falência das condutas e clivagens tradicionais britânicas, certamente de risco e incerteza pelo amanhã, em que a mínima relação interpessoal dos géneros pode ser o rastilho incendiário para uma afectividade passional. Nesta reconstituiç

Poibido Olhar

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Algumas pessoas são contra mim. E depois, qual é a estranheza?... A maior parte delas, até contra elas próprias são! É característico do step social no deslavado sobe-e-desce das formas, formaturas e formatações arrivistas, para que aquilo que se olhe se não veja, aquilo que se escuta se não ouça, aquilo que se fala se não diga, aquilo que se sonha se não pense e aquilo que se quer seja silenciado, que se esconda no que há de pior das nomenclaturas, sobretudo os oxímoros que encerram, as leis que ultrajam e a transparência que aniquilam, que se entendermos certos termos e denominações por aquilo que são e significam, que invariavelmente nos sentiremos o mais miserável dos desgraçados povos existentes à face da terra, principalmente se começarmos pelo sentido exacto de algumas das suas instituições fundamentais como o são, ou o é, por exemplo, o de Justiça Portuguesa, clamorosamente contraditória uma vez que de justa não tem quase nada, como o atestam os 700 (mil ou milhões, perdoe-se

Remédio Fatal, de Catherine Aird

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Remédio Fatal Catherine Aird Trad. Eduardo Saló 224 Páginas A acção desenrola-se num ambiente sócio-profissional circunscrito aos cuidados de saúde bem como à investigação científica, e a narrativa gira à volta da problemática dos testes, ou experiências efectuadas pelo corpo clínico de novas "drogas" em pacientes seus, que assim funcionam como cobaias humanas. Extraordinariamente inquietante, a questão desperta um sem-número de reacções dentro do leque convencional, quer do foro ético e deontológico, como ao âmbito filosófico e científico. Então, uma doente supostamente inscrita nesse programa de pesquisa (Protocolo Cardigan) morre. É o princípio casual para uma longa e exaustiva expedição dos policiais (Sloan, Crosby e Leeys) à velada e maneirista atmosfera do crime. Sempre misteriosa, sempre obscura, sempre perigosa, sempre labiríntica, mas também sempre tão explicitamente ligada aos seus interesses e motivos, que basta desvendá-los para que o novelo se desenleie totalment

Em Busca das Bandejas de Oiro, de Jacques Futrelle

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Em Busca das Bandejas de Oiro Jacques Futrelle Trad. J. Lima da Costa 190 Páginas Quem de vinte(,) cinco tira, quantos ficam? Num baile de máscaras um indivíduo disfarçado de ladrão a bafa, b ifa, g ama, as 11 (onze) bandejas de oiro ao anfitrião (e de fugida leva consigo a cowboy de serviço que o supusera seu namorado, e julgara reconhecer não obstante desconhecer o mascarado – porque isso das máscaras funciona mesmo em ficção, embora quase nunca suceda em realidade, onde o jogo de faz-de-conta). Então, um jornalista armado ao pingarelho aventura-se na peugada do engenhoso artífice amigo do alheio, sensivelmente dois passos à frente da polícia, aliás, orquestrada e dirigida pelo Génio Supremo. Todavia este jornalista, não passa de um peão de brega na faena do verdadeiro artista, a Máquina Pensante, cientista por método, diploma e profissão, e aí aquilo que eram somente dois passinhos vira quatro. O que era um ladrão desdobra-se noutro. E entramos graciosamente no jogo dos espelhos...

As Aranhas Douradas, de Rex Stout

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As Aranhas Douradas (The Golden Spiders) Rex Stout Trad. Manuel Cordeiro Nas novelas de Rex Stout, das quais conhecemos pelo menos dez tradutores (Eduardo Saló, Catarina Rocha Lima, Mascarenhas Barreto, Maria Luísa Santos, Lucinda S.Silva, Maria Emília Ferros Moura, Manuel Cordeiro, etc., etc.) as variações sequenciais, no seguimento ou sucessão dos trechos, para delineamento dos quadros ou dísticos que, depois de encadeados, formam o painel da narrativa, as diferenças entre elas ou eles, são sempre subtilíssimas e deléveis, sem bruscas tiradas, esticões de conteúdo, nem rompantes e repentinos impulsos geniais, mas antes com a pertinaz harmonia de quem ensaia o decalque sobre o esboço, nele insiste por diversos prismas, para melhor vincar os contornos das figuras numa aguarela esbatida pelo tempo. E daí o sentimento de familiaridade, a entrosagem, o reconhecido entrosamento que o leitor experimenta sempre que pega num novo volume, sentindo-se como em casa, não só pela fluê

Dilema em Biarritz

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Dilema em Biarritz Nicolas Freeling Trad. Eduardo Saló Thriller – 224 Páginas Pianinho e empoado, que é para parecer banquete, romance travesti e parodiante, na textura dos tapetes voadores, com entrançado onde se cruzam e entretecem, além dos nebulosos cenários do cinema hollywoodesco (ou cowboyana fantasia USA biblicamente assistida) com os de expressão neo-realista continental, também os "(i)magos" discursos de Boris Vian (Vernon Sullivan), Georges Simenon e de A. Christie, estabelecendo aquele background de notória surrealidade ao enredo, ou mesmo de absurdez existencial, em que tudo é possível, por mais indizível e inaudito que seja, desde a cooperação das forças terroristas bascas com um PJ aposentado, na recuperação da neta deste último, raptada por elementos do milieu capitalista, mafioso e político de Biarritz, até ao desenvolvimento de teorias interpretativas da psicologia comparada, este livro vem esclarecer muito satisfatoriamente o nível de fusões possíveis no

Veneno Para Um Detective

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Hartley Howard Trad. Mascarenhas Barreto 192 Páginas "Sum, ergo bibo; bibo, ergo sum." A arte é um canhão apontado à paisagem. Em literatura, que é coisa muito diferente da realidade – pese embora existirem bastas realidades cujo realismo, objectividade, exactidão, rigor factual, respeito pelo concreto sensitivo como pelo conteúdo ou percepção das sensações, sejam sumária e notoriamente menos inverosímeis do quaisquer criações literárias, porque motivadas nos "escondidos" desvios éticos, religiosos, políticos, territoriais, económicos e corporativismos deontológicos –, porquanto na ficção só acontece na narrativa aquilo que o autor quer que aconteça ( Deus ex-machine , se diz no latinório da cagança), ainda que ninguém o note à vista "desarmada", o que é certo, aunque la mona se vista de seda, mona se queda , é que um criminoso tem sempre aspecto de criminoso, mesmo quando se esforça em demonstrar o contrário, se torna exímio actor de papéis angélicos, se

Um poema de Manuel Canijo

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Doente de ser português Boca a sangrar de morder as estrelas E a tristeza de barriga ao sol Neste desgraçado clima temperado (A mista cumplicidade Das consciências opacas A inteireza traída Nas fissuras da memória) Deitados à portuguesa No apodrecer da história Porto, 1954 – 1964 Manuel Canijo Foto: Pedro Alcobia da Cruz

O Escafandro e a Borboleta

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Jean-Dominique Bauby Trad. Clarisse Tavares 152 Páginas No silêncio precioso que faculta ouvir borboletas a voarem-lhe dentro da cabeça, enclausurado num escafandro, para onde fora remetido o seu corpo inerte, após um acidente vascular que o fechou no interior de si mesmo – dito tecnicamente de locked-in syndrome –, Jean-Dominique Bauby, redactor-chefe da cosmopolita revista ELLE, elabora mentalmente a sua derradeira reportagem, qual diário de bordo para uma viagem sem retorno possível, porquanto a morte breve se avizinha ser a sua única certeza. Vinte dias de coma e algumas semanas de nevoeiro cerrado, terão sido o prelúdio ao período de lucidez, qual canto do cisne, que antecedeu o seu falecimento, no qual respirar, mas também amar e admirar, lhe foram tão urgentes como necessários, essenciais quão derradeiros, imprescindíveis quanto irrecuperáveis, cuja sofreguidão consome a uma velocidade meteorítica, precisamente por estarem os minutos contados, serem aquela gota de vida que se

Harun Farocki

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