Remédio Fatal, de Catherine Aird
Remédio Fatal
Catherine Aird
Trad. Eduardo Saló
224 Páginas
A acção desenrola-se num ambiente sócio-profissional circunscrito aos cuidados de saúde bem como à investigação científica, e a narrativa gira à volta da problemática dos testes, ou experiências efectuadas pelo corpo clínico de novas "drogas" em pacientes seus, que assim funcionam como cobaias humanas. Extraordinariamente inquietante, a questão desperta um sem-número de reacções dentro do leque convencional, quer do foro ético e deontológico, como ao âmbito filosófico e científico. Então, uma doente supostamente inscrita nesse programa de pesquisa (Protocolo Cardigan) morre. É o princípio casual para uma longa e exaustiva expedição dos policiais (Sloan, Crosby e Leeys) à velada e maneirista atmosfera do crime. Sempre misteriosa, sempre obscura, sempre perigosa, sempre labiríntica, mas também sempre tão explicitamente ligada aos seus interesses e motivos, que basta desvendá-los para que o novelo se desenleie totalmente.
No enquadramento narrativo está subjacente a moldura do labirinto. Todavia, à medida que as autoridades se vão aproximando do núcleo nevrálgico da problemática, os cadáveres proliferam, numa proporção de resultado futebolístico, ensaiando uma espécie de desafio do macabro: Pacientes 3 – Médicos 2.
Assim, imbuída do espírito metodológico, Catherine Aird, aliás pseudónimo de Kim Hamilton McIntosh, faz igualmente a sua experiência colocando um observador privilegiado no camarote das operações, um artista plástico, qual Deus ex machina encavalitado acima dos demais por um andaime, em que pinta mural simbólico no átrio de um dos hospitais do cenário afecto ao enredo. Como árbitro é um fiasco; como filósofo, uma nulidade; como guia-detective iluminado, uma escória. Mas ajuda sobremaneira a decoração e, no final, auxilia os justos a atar as pontas soltas. Enfim, dá à autora a originalidade de ter criado uma personagem placebo, a condizer com a temática e indumentária dos homicidas, para elucidar o tipo de navegação possível entre os escombros, reminescentes do sério naufrágio registado pelo discurso, tão característico, onde os salvados podem bem não passar do acervo de elementos da terminologia médica, farmacêutica, laboratorial e sanitária, em risco de virarem linguagem comum. O que, se poderá indicar, como óptima leitura para quem não se importa de alargar os horizontes do seu vocabulário – pelo menos!
Catherine Aird
Trad. Eduardo Saló
224 Páginas
A acção desenrola-se num ambiente sócio-profissional circunscrito aos cuidados de saúde bem como à investigação científica, e a narrativa gira à volta da problemática dos testes, ou experiências efectuadas pelo corpo clínico de novas "drogas" em pacientes seus, que assim funcionam como cobaias humanas. Extraordinariamente inquietante, a questão desperta um sem-número de reacções dentro do leque convencional, quer do foro ético e deontológico, como ao âmbito filosófico e científico. Então, uma doente supostamente inscrita nesse programa de pesquisa (Protocolo Cardigan) morre. É o princípio casual para uma longa e exaustiva expedição dos policiais (Sloan, Crosby e Leeys) à velada e maneirista atmosfera do crime. Sempre misteriosa, sempre obscura, sempre perigosa, sempre labiríntica, mas também sempre tão explicitamente ligada aos seus interesses e motivos, que basta desvendá-los para que o novelo se desenleie totalmente.
No enquadramento narrativo está subjacente a moldura do labirinto. Todavia, à medida que as autoridades se vão aproximando do núcleo nevrálgico da problemática, os cadáveres proliferam, numa proporção de resultado futebolístico, ensaiando uma espécie de desafio do macabro: Pacientes 3 – Médicos 2.
Assim, imbuída do espírito metodológico, Catherine Aird, aliás pseudónimo de Kim Hamilton McIntosh, faz igualmente a sua experiência colocando um observador privilegiado no camarote das operações, um artista plástico, qual Deus ex machina encavalitado acima dos demais por um andaime, em que pinta mural simbólico no átrio de um dos hospitais do cenário afecto ao enredo. Como árbitro é um fiasco; como filósofo, uma nulidade; como guia-detective iluminado, uma escória. Mas ajuda sobremaneira a decoração e, no final, auxilia os justos a atar as pontas soltas. Enfim, dá à autora a originalidade de ter criado uma personagem placebo, a condizer com a temática e indumentária dos homicidas, para elucidar o tipo de navegação possível entre os escombros, reminescentes do sério naufrágio registado pelo discurso, tão característico, onde os salvados podem bem não passar do acervo de elementos da terminologia médica, farmacêutica, laboratorial e sanitária, em risco de virarem linguagem comum. O que, se poderá indicar, como óptima leitura para quem não se importa de alargar os horizontes do seu vocabulário – pelo menos!
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