As Aranhas Douradas, de Rex Stout

As Aranhas Douradas
(The Golden Spiders)
Rex Stout
Trad. Manuel Cordeiro




Nas novelas de Rex Stout, das quais conhecemos pelo menos dez tradutores (Eduardo Saló, Catarina Rocha Lima, Mascarenhas Barreto, Maria Luísa Santos, Lucinda S.Silva, Maria Emília Ferros Moura, Manuel Cordeiro, etc., etc.) as variações sequenciais, no seguimento ou sucessão dos trechos, para delineamento dos quadros ou dísticos que, depois de encadeados, formam o painel da narrativa, as diferenças entre elas ou eles, são sempre subtilíssimas e deléveis, sem bruscas tiradas, esticões de conteúdo, nem rompantes e repentinos impulsos geniais, mas antes com a pertinaz harmonia de quem ensaia o decalque sobre o esboço, nele insiste por diversos prismas, para melhor vincar os contornos das figuras numa aguarela esbatida pelo tempo. E daí o sentimento de familiaridade, a entrosagem, o reconhecido entrosamento que o leitor experimenta sempre que pega num novo volume, sentindo-se como em casa, não só pela fluência e entretecimento do discurso narrativo, mas também pelo "efeito de estufa" ou debate doméstico no qual (subentendidamente) ecoa. A não ser que algo de invulgar surja no contexto, como sucede no caso deste caso onde nos deparamos com subalternos a tratar por tu o grande e recheado Nero Wolfe, o fauno da estufa das orquídeas, o dificilmente enganável, porquanto é dos raros que sabe que as «vandas» não dão flores em Maio.
Ora isto, este anúncio, é só por si um desafio, cujo resultado pode ser o mesmo (no tratamento formal e consequências) que o do slogan pessoano para a Coca-Cola, em que somente depois de entranhado o sabor se deixa de estranhar o gosto, admitindo variedade apenas se ela lhe acarretar nova tonalidade, mas tão leve e imprecisa, que nunca lhe altere ou adultere o paladar; e isso, se comparado, trará as dificuldades comuns entre o verosímil e a verdade, porque é do apuramento dela que se fala sempre, quando se fala em romance policial. E este exige excelência na denominação!


(Vandas – Orquídeas epífitas com caules de onde nascem frequentemente raízes carnudas e aéreas e folhas verde-claras, geralmente ensiformes, surgindo nas extremidades os pedúnculos que suportam várias flores aromáticas e douradas, sendo das quais algumas espécies cultivadas como ornamentais. Umas são anãs, outras elevadas e ramificadas e trepadoras, com folhas dísticas, flores em cachos axilares, labelo esporado e trilobado, com lóbulos laterais pequenos, polinídias e caudículo comum.)

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