Em Busca das Bandejas de Oiro, de Jacques Futrelle
Em Busca das Bandejas de Oiro
Jacques Futrelle
Trad. J. Lima da Costa
190 Páginas
Quem de vinte(,) cinco tira, quantos ficam?
Num baile de máscaras um indivíduo disfarçado de ladrão abafa, bifa, gama, as 11 (onze) bandejas de oiro ao anfitrião (e de fugida leva consigo a cowboy de serviço que o supusera seu namorado, e julgara reconhecer não obstante desconhecer o mascarado – porque isso das máscaras funciona mesmo em ficção, embora quase nunca suceda em realidade, onde o jogo de faz-de-conta). Então, um jornalista armado ao pingarelho aventura-se na peugada do engenhoso artífice amigo do alheio, sensivelmente dois passos à frente da polícia, aliás, orquestrada e dirigida pelo Génio Supremo. Todavia este jornalista, não passa de um peão de brega na faena do verdadeiro artista, a Máquina Pensante, cientista por método, diploma e profissão, e aí aquilo que eram somente dois passinhos vira quatro. O que era um ladrão desdobra-se noutro. E entramos graciosamente no jogo dos espelhos...
Porém, uma ressalva. O "cenário" labiríntico está pejado de fantasmagorias no metafórico, de aparências que são, escorado em alegorias que deveras alegam, de palavras que se revelam desdobráveis e se multiplicam para além dos seus simples e usuais significados, encruzilhada de sentidos, armadilhando o jogo e desafiando o leitor a sublinhar de entre as evidências a mais lógica e evidente. No fim, é esta formalidade dedutiva que prevalece, mas órfã e abandonada pelas "obviosidades óbvias", indo ao desconhecido buscar um criminoso antigo que nunca entrara na história. Se nos surpreende?... Convenhamos que sim, contudo pela surrealidade naïf, porquanto nos tira da cartola um coelho quando nem sequer sabíamos da existência dessa cartola, ou tanto quanto nos surpreenderia uma rosa vermelha no puré da sopa. É bonita, fica-lhe bem, pode estar repleta de subentendidos, provoca um bom arranjo cromático, simplesmente não devia lá estar. Desembronca a fotografia, mas desvirtualiza o género, degenera-o, transformando em handicap aquilo que, tão-somente, poderia ser uma particularidade de estilo.
Quaisquer outros, igualmente deterministas, dirão: impossível. Mas Jacques Futrelle, ainda que hipoteticamente o possa ter pensado, não se resumiu a dizê-lo... (Credo quia absurdum) Fê-lo!
Jacques Futrelle
Trad. J. Lima da Costa
190 Páginas
Quem de vinte(,) cinco tira, quantos ficam?
Num baile de máscaras um indivíduo disfarçado de ladrão abafa, bifa, gama, as 11 (onze) bandejas de oiro ao anfitrião (e de fugida leva consigo a cowboy de serviço que o supusera seu namorado, e julgara reconhecer não obstante desconhecer o mascarado – porque isso das máscaras funciona mesmo em ficção, embora quase nunca suceda em realidade, onde o jogo de faz-de-conta). Então, um jornalista armado ao pingarelho aventura-se na peugada do engenhoso artífice amigo do alheio, sensivelmente dois passos à frente da polícia, aliás, orquestrada e dirigida pelo Génio Supremo. Todavia este jornalista, não passa de um peão de brega na faena do verdadeiro artista, a Máquina Pensante, cientista por método, diploma e profissão, e aí aquilo que eram somente dois passinhos vira quatro. O que era um ladrão desdobra-se noutro. E entramos graciosamente no jogo dos espelhos...
Porém, uma ressalva. O "cenário" labiríntico está pejado de fantasmagorias no metafórico, de aparências que são, escorado em alegorias que deveras alegam, de palavras que se revelam desdobráveis e se multiplicam para além dos seus simples e usuais significados, encruzilhada de sentidos, armadilhando o jogo e desafiando o leitor a sublinhar de entre as evidências a mais lógica e evidente. No fim, é esta formalidade dedutiva que prevalece, mas órfã e abandonada pelas "obviosidades óbvias", indo ao desconhecido buscar um criminoso antigo que nunca entrara na história. Se nos surpreende?... Convenhamos que sim, contudo pela surrealidade naïf, porquanto nos tira da cartola um coelho quando nem sequer sabíamos da existência dessa cartola, ou tanto quanto nos surpreenderia uma rosa vermelha no puré da sopa. É bonita, fica-lhe bem, pode estar repleta de subentendidos, provoca um bom arranjo cromático, simplesmente não devia lá estar. Desembronca a fotografia, mas desvirtualiza o género, degenera-o, transformando em handicap aquilo que, tão-somente, poderia ser uma particularidade de estilo.
Quaisquer outros, igualmente deterministas, dirão: impossível. Mas Jacques Futrelle, ainda que hipoteticamente o possa ter pensado, não se resumiu a dizê-lo... (Credo quia absurdum) Fê-lo!
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