A Liberdade Também Se Aprende

"A todos os escribas e artistas e praticantes de magias através dos quais estes espíritos se têm manifestado...
NADA É VERDADE; TUDO É PERMITIDO. "
William S. Burrougs, in Cidades da Noite Vermelha


A Um deus desconhecido

É Ele Quem nos faz respirar e a força é dádiva Sua.
As altas divindades respeitam os Seus mandamentos.
A Sua sombra é Vida, a Sua sombra é morte;
Quem é Ele, a Quem oferecemos o nosso sacrifício?

Apesar do Seu poder, tornou-se senhor da vida e do mundo resplandecente.
E governa o mundo, os homens e as bestas.
Quem é Ele, a quem oferecemos o nosso sacrifício?

Da Sua força as montanhas tomaram forma, e também o mar
E o distante rio;
Quem é Ele, a Quem oferecemos o nosso sacrifício?
Fez o Céu e fez e a Terra e, pela Sua vontade, ocuparam os seus lugares,
Contudo, olham-No e estremecem.
O sol nascente brilha sob a Sua vontade.
Quem é Ele, a Quem oferecemos o nosso sacrifício?

Olhou sobre as águas que entesouram o Seu poder e engendraram a imolação.
É o Deus dos Deuses.
Quem é Ele, a quem oferecemos o nosso sacrifício?

Que não nos fira Aquele que fez a Terra,
Que fez o Céu e o Mar reluzente?
Quem é Ele, a Quem oferecemos o nosso sacrifício?

John Steinbeck, in A Um deus Desconhecido

Porém, o Senhor todo poderoso o feriu
E o entregou nas mãos de uma mulher,
Que lhe tirou a vida.
O seu herói não foi prostrado
Às mãos de jovens guerreiros,
Nem o feriram os filhos de Titã,
Nem se lhe opuseram corpulentos gigantes.
Mas Judite, filha de Merari,
O derrubou com a formosura do seu rosto.
Ela se despiu do traje de viúva,
E se ataviou com os vestidos da alegria,
Para o triunfo dos filhos de Israel.
Ela ungiu o seu rosto com perfumes,
Entrançou os seus cabelos sob um turbante
E revestiu-se de um vestido novo para o seduzir.
As suas sandálias arrebataram-lhe os olhos,
E a sua beleza cativou-lhe a alma,
E ela cortou-lhe a cabeça com o alfange.
Judite, 16: 7-11


Apenas porque não acreditamos num determinado Deus, teremos o direito o direito de reclamar a sua inimizade? Dar-nos-á a nossa ignorância, medo e vocação missionária o direito de conduzir os demais sem assumir a responsabilidade do acto? Livros e livros foram amputados de suas partes imprescindíveis à compreensão simplesmente porque quem os leu antes, traduziu e editou os considerou indignos da sua verdade? Como se chamam os críticos que em vez de compreender, explicar e ajuizar, matam uma determinada obra para atingir "mortalmente" o seu autor? É necessário, não corrigir o passado, mas desamputá-lo dos golpes suicidas que sobre si mesmo desferiu, para que se consolide a sustentabilidade humana, com raízes no amor, no trabalho e na sabedoria (W. Reich), uma vez que são ainda eles quem permitem que nasçamos continuamente homens e mulheres para sermos também cada vez mais humanidade. Foram inúmeros os livros a quem a(s) censura(s) tiraram capítulos, epígrafes, evangelhos, personagens (Lilith, por exemplo bíblico). A verdade era assim tão contundente?

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